Apenas
a título de esclarecimento, aos que respeitam opiniões contrárias, e apenas a
esses, é que escrevo agora. Fui alvo de críticas e agressões acerca de minha
opinião avessa ao ‘Bolsa-Família', programa criado pelo Governo Federal há 10
anos. Grande parte optou por uma justificativa simplista.
- “Ah, ela é rica, juíza, elite, fala porque nunca passou necessidades, nunca
passou fome...”. Pronto! Essa justificativa encerra a questão e resolve o
problema. É uma idiotia de quem nada sabe sobre a vida.
Apenas a título de informação saibam que não sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele, se Deus quiser, nunca passarei fome nem necessidade, mas lutei por ele; e como lutei! Sofri, estudei, trabalhei e lutei, repita-se. Mas isso é outra estória que em outro momento, se interessar a alguém, posso contar.
Apenas a título de informação saibam que não sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele, se Deus quiser, nunca passarei fome nem necessidade, mas lutei por ele; e como lutei! Sofri, estudei, trabalhei e lutei, repita-se. Mas isso é outra estória que em outro momento, se interessar a alguém, posso contar.
Aquele
final de semana retrata exatamente um dos fatores que me levam a formar a
opinião que tenho. Um simples “boato” de que o ‘Bolsa-Família’ iria acabar, foi
suficiente para causar um caos em várias agências da Caixa Econômica Federal.
Uma pessoa me disse que teve que pedir dinheiro emprestado para sair do seu
sítio para receber o ‘bolsa-família’, “antes que acabasse”...
A
pergunta é: de que viveriam essas pessoas, se o ‘bolsa-família acabasse? A
minha resposta: passariam ainda mais fome do que tinham quando começaram a
recebê-lo. E sabem por quê? Porque agora, com a certeza do “benefício”, do
óbolo, elas não se propõem mais a trabalhar, ou a estudar e se
profissionalizar. Enfim. Estão escravizados à merreca que recebem, como
qualquer dependente químico da droga que consomem.
É
a isso que me oponho. pois quando esse “programa social” foi implantado, a
situação das pessoas era caótica, lastimável. Hoje elas estão sendo tratadas
como inúteis, como incapazes, com a única serventia de massa de manobra
eleitoral! A partir do momento em que se implanta um ‘programa
assistencialista’ como esse, sem uma política paralela de reestruturação, de
capacitação para o restabelecimento de condições de trabalho, de autossustento,
enfim, de busca por uma atividade que traga um mínimo de independência como
contrapartida pela ajuda oferecida pelo estado, ou esse estado passa a considerar
essas pessoas como não tendo capacidade alguma para tal ou, simplesmente, não
se está querendo ajudar, mas tão somente escravizar, ou seja, obter delas a
única coisa de valor que têm a oferecer: o seu voto – e a preço módico. É no
que acredito.
Segundo
a ONU, o ‘bolsa-família’ – que antes era chamado de ‘bolsa-escola’ e exigia a
contrapartida das crianças e adultos analfabetos estarem cursando o ensino
fundamental – rendeu muita popularidade e votos, mas as DESIGUALDADES continuam
elevadas e os progressos obtidos são pífios.
Como
programa de caráter EMERGENCIAL, o ‘Bolsa-Família’ foi importante, mas onde
está a tão decantada “inclusão socioeconômica” sustentável dos seus
beneficiários?
O
saudoso Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas canções, de composição com Zé
Dantas:
–
“Seu Doutor, uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou
vicia o cidadão...”.
A
Coordenadora do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
afirmou que, da forma que o programa funciona, não tem sido útil para ela
identificar e retirar as crianças do trabalho e que esse programa não tem
impacto nenhum na redução do trabalho infantil.
O
programa existe há dez anos e pouquíssimo foi mudado na vida dessas pessoas. O
que foi feito de efetivo para reestruturar essas famílias?
Visitem
as casas dessas pessoas e me digam o quanto mudou! Enquanto apresentam índices
de redução de evasão escolar, em razão do que era o ‘Bolsa-Escola’, os
adolescentes que passam hoje pela Vara que ocupo não sabem a data de seus nascimentos,
não sabem o seu nome completo, não sabem o nome de seus pais e, pasmem, não tem
a menor ideia de seus endereços. Que noção de civilidade esses meninos tem?
Esses mesmos meninos que agora estão querendo jogar na prisão!?!
O
‘bolsa-família não dignifica. Escraviza. Vicia no ócio. É o que acho.
As
pessoas se tornam escravas da vontade política e não formadoras dessa vontade.
E isso para mim é um FAZ-de-CONTA, sim. Defender a redução da maioridade penal
é um exemplo disso. Defender a pena de morte também. Fazem de conta que isso
vai resolver a criminalidade, mas não vai.
Da
mesma forma que fazem de conta que cumprem o ECA, que existe há mais de vinte
anos, não o cumprem. Nunca o cumpriram.
Como
eu posso cobrar algo de alguém a quem eu nunca dei a chance que produzisse esse
algo? As pessoas não podem viver de esmolas. Precisam aprender a andar com as
próprias pernas e precisam saber que isso é da responsabilidade delas também.
Vejo
mulheres jovens e saudáveis pedindo dinheiro nas ruas. Cada uma com seus três
ou quatro filhos. Mas nenhuma pede um emprego. Por quê?
Os
senhores tem ideia de quantos cartões desse programa estão nas famosas “bocas
de fumo”?
Vejo
homens jovens e saudáveis nas portas dos bares ou papeando nas esquinas em
pleno dia da semana. Porque não estão trabalhando?
Qual
o trabalho que as políticas públicas oferecem ou a simples, mas fundamental
capacitação para eles?
É
certo que existem alguns programas profissionalizantes. Mas são tímidos,
limitados, e não recebem a milésima parte do investimento que o programa de
“caridade” gasta, com essa barganha evidente to “toma lá e dá cá o seu voto”.
Não
sou contra partido político algum. Sou contra políticas públicas inúteis, mal
intencionadas e danosas ao futuro da nossa gente e nação. Sou e serei sempre.
Respeitem
a minha opinião. Discordem dela, mas a respeitem. E não sejam tão simplistas
assim. As coisas não são simples e não podem ser “explicadas” dessa forma
populista e demagógica como tem sido a prática dos governos na última década,
principalmente por quem não me conhece.
O
homem precisa ser dignificado e não escravizado ou comprado por aparentes
favores de seus governantes. As pessoas continuam sofrendo com a seca...
Absolutamente TODAS AS PESSOAS, TODOS OS ANOS, HÁ DÉCADAS. E o que foi feito da
política de irrigação, da política que permaneça que se perpetue e que de fato
transforme a vida do sertanejo do nordeste, onde – todo mundo sabe, menos o
governo – a água está no subsolo e não na superfície?
Não
precisamos disso. Somos inteligentes e capazes. Temos força e vontade de
trabalhar. Só precisamos de oportunidades e onde elas estão? Onde está a água
das chuvas do ano passado?
Aos
que apenas me agrediram gratuitamente, fico com a dor que me causaram e com o
consolo de que o tempo cura quase tudo. Aos que perderam alguns minutos de suas
vidas para lerem essa minha resposta, agradeço a atenção.
Que
Deus esteja conosco!
Cajazeiras
– PB, 26 de maio de 2013.
Adriana
Lins de Oliveira Bezerra
Juíza
de Direito, Eleitora, e Cidadã.