domingo, 5 de julho de 2015

Futebol. Mais ação e menos blá,blá,blá...(Tostão)

Existe um grande número de pessoas que não entendem a evolução do futebol brasileiro e mundial e que adoram dizer, o que agrada a muitos, que o problema de nosso futebol é ter perdido a essência e seguido o modelo europeu.
É o contrário. Independentemente do sistema tático, os europeus, para melhorar a qualidade do espetáculo e, com isso, ter mais lucros, passaram a jogar com mais troca de passes, com a bola no chão, com poucas faltas, com volantes que marcam, apóiam e avançam e em ótimos gramados.
Enquanto isso, o futebol brasileiro privilegia, há muito tempo, os chutões, a correria, a bola aérea, o excesso de faltas, de simulações, o jogo truncado e compartimentado, com volantes que marcam, meias que armam e centroavantes que finalizam.
Isso começou a mudar, timidamente, com Tite, Mano Menezes e outros novos técnicos. Porém, os vícios acumulados e os tantos lugares-comuns impregnaram nosso jogo e dificultam as mudanças.
Recuperar a essência é formar muitos talentos, jogar um futebol eficiente e agradável de ver, de acordo com a evolução. Não dá mais para atuar como nos anos 1950, 60 e 70.
Não temos uma ótima geração, mas dizer que essa é a pior é desconhecer a história. A deficiência na formação de jogadores está na infância, na adolescência, nas categorias de base e na passagem da base para os times principais. Além disso, o estilo feio e truncado dificulta o surgimento de craques.
Os treinadores das categorias de base são, geralmente, ex-atletas, que conhecem os detalhes do jogo, mas não conhecem a ciência de ensinar, ou treinadores acadêmicos, que sabem a ciência de ensinar, mas não sabem os detalhes do jogo. É preciso ter treinadores com os dois olhares. Mesmo os mais bem preparados repetem, por comodismo ou para garantir o emprego, tudo de errado que fazem os técnicos principais.
A intenção da CBF, sem credibilidade, de discutir os problemas do futebol brasileiro, convidando dezenas de pessoas, para agradar a todos e para trocar gentilezas, muitas sem condições técnicas para opinar, é perda de tempo. É preciso mais ação e menos blá blá blá.
O que o futebol brasileiro mais necessita é de profissionais competentes e independentes nas direções de cargos, dentro e fora de campo, e que sejam escolhidos por seus méritos. A troca de favores e a formação de patotas são pragas nacionais, no futebol e em todas as áreas.
Marco Polo Del Nero é presidente da CBF porque era próximo de Ricardo Teixeira, Marin e seus aliados. Gilmar Rinaldi foi escolhido porque, segundo relatos de pessoas que acompanhavam diariamente a Federação Paulista, não saía do gabinete do presidente, na época, Del Nero. Dunga foi companheiro de Gilmar na Copa de 1994. Dunga é um profissional sério. Apenas sua substituição não resolverá os problemas do futebol brasileiro, mas outros treinadores, como Tite, estão à sua frente.
Para melhorar nosso futebol, seria fundamental a conscientização de todos, especialmente dos treinadores da base e dos times principais, de que não basta o resultado e que a qualidade do jogo, do espetáculo, é essencial.

A CULTURA DO FUTEBOL

Este seria o momento para os clubes se unirem e criarem uma liga para administrar o futebol. Isso não vai acontecer. A maioria é comprometida com a estrutura.
Treinadores, dirigentes, jogadores, torcedores e parte da imprensa repetem, com frequência, o lugar-comum de que a excessiva troca de treinadores faz parte da cultura esportiva, de que é assim que funciona e ponto final. É uma postura medíocre. Mais que isso, acreditam que vitórias, derrotas e atuações das equipes são sempre decorrentes das condutas dos treinadores.
Os treinadores reclamam que ficam pouco tempo em um clube, mas também gostam da situação, que os mantém supervalorizados, como se fossem os supertécnicos.
Outro hábito, que se perpetua e mediocriza nosso futebol, é o de criar conceitos, heróis e vilões, o de exaltar jogadores e equipes por um bom momento. Tudo muda em uma semana. Na ânsia de promover o espetáculo, fazer bons negócios e aumentar a audiência, perdem o senso crítico.
Outro chavão é dizer que os sul-americanos têm "sangue quente" e que, por isso, o jogo é mais violento.
Esse é um dos motivos importantes da queda técnica do futebol. É ótima a intenção da comissão de arbitragem, de marcar apenas faltas claras e de dar cartões aos reclamões. Com isso, aumentou bastante a média de tempo de bola rolando das partidas.
Por outro lado, os árbitros precisam ter bom senso e conhecimento para não cometer graves erros.
Outra "cultura" do futebol brasileiro é divulgar vídeos de palestras dos técnicos e dos capitães antes das partidas, mas só as dos vencedores. Como disse Arthur Dapieve, no "Redação Sportv", também queria ver as palestras otimistas de Felipão e de David Luiz, os gritos de união antes dos 7 a 1.
Mais um lugar-comum no Brasil é o de usar as mesmas explicações técnicas e táticas para situações diferentes e de tentar explicar tudo, mesmo o que não tem explicação.
Ainda bem que existem pessoas inteligentes, competentes e sérias, como Ceni, ao dizer que joga até hoje e que vai continuar até dezembro por seu esforço, qualidades técnicas, desejo do técnico, e não para jantar com torcedores e vender pacotes de sócio-torcedor, como queria o marketing do São Paulo. Justificou ainda que não tem tido tempo nem para jantar com os filhos.